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Zélio Alves Pinto

 

Quando pela primeira vez vi um traço feito pelo Jun, ele já era um consagrado estudante de administração na FGV. Observei a linha fluir solta e corri o risco de um vaticínio em voz alta, sugerindo que ele esquecesse esse negócio de ser um administrador.

 

Interferia, talvez, no plano de Minoru e dona Augusta, empenhados em educar um ministro – e o Jun estava bem encaminhado. Creio que ambos devem ter tremido na base quando o filho querido se juntou ao grupo de jovens artistas freqüentadores daquele barulhento ateliê na ladeira da "doutor José Manoel", em Santa Cecília, no final dos anos setenta do século passado. 

 

A partir de então, nunca tivemos dúvida. Desde o EBART, escola de desenho que tivemos juntos mais o Ziraldo, e o departamento de Museus e Arquivos, da Secretaria de Estado da Cultura, aos primeiros vôos solo, Jun dominava os espaços com uma intimidade milenar, herança por certo dos santos com olhos puxados. Com o mesmo talento administrava a forma e a proporção, assim como a cor e o volume, instrumentos que Jun, espontaneamente, incorporou a sua visão criadora desde sempre. 

 

Com humor ele propõe o riso, a reflexão e muitas vezes até a consternação. Sua linha é seu traço, seu risco permanente, correndo o risco ao inventar, esse sim, seu objetivo permanente. É isso que o Jun faz: cria o impossível com a linha e a sugestão do risco. Banha, às vezes com cores, seus inventos, mas essas raramente são essenciais. Dos nossos, ele é um dos poucos que desenham o intangível com tanta propriedade. Enquanto inventa meios e marcas, vai construindo uma carreira com circulação dirigida e de grande sucesso. 

 

Dono de uma capacidade organizacional aparentemente ilimitada, aproveita essa qualificação com sabedoria e produtividade incansável, em prosa, versos, axiomas e imagens antológicas, mantendo o humor e a ironia transparentes, como temperos da convivência, onde reina. A publicação que o ilustre cavaleiro ou a inteligente dama tem nas mãos é não apenas lazer para o entendimento, mas também excelente testemunho da produção discreta, mesmo que valiosa, de um completo artista gráfico de nosso tempo. 

 

Mais do que representar seu tempo, Jun é seu tempo, único e múltiplo. Na verdade, seu tempo é que gostaria de ser igual a ele. Além de um belo e útil objeto, essa publicação é também um excelente instrumento para aprendizes da arte de conviver. Aqui se vêem, se ouvem e se lêem as aventuras e a evolução por meio das artes gráficas, no exemplo de um ex-aprendiz, hoje mestre. Como se diz em Minas, deu certo e eu fico alegre demais da conta! Parabéns, Jun! 

 

Zélio Alves Pinto é artista plástico com mais de 50 exposições no Brasil e exterior. Jornalista, editor de arte e escritor, foi secretário-adjunto da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

Os silêncios das entrelinhas e das entreletras: o design gráfico de Jun Yokoyama

Maria Cecília Loschiavo

 

Conheci Jun Yokoyama há mais de vinte anos, esse tempo já vai longe! Com Zélio Alves Pinto, fizemos um livro e pude acompanhar a consistência de seu trabalho. Ainda que fosse extremamente jovem, já manifestava grande firmeza em suas concepções do design gráfico. Fui acompanhando sua trajetória ao longo dos anos e cada vez mais me inquieta sua capacidade de sentir e exprimir a pulsação das palavras pelo design, seja em cartazes, textos ou demais peças. Jun captura a pluralidade dos silêncios das entrelinhas e das entreletras e com uma delicadeza minimalista e colorida, desafia a curiosidade do leitor. Seus projetos apontam para uma certa solidariedade entre as artes, a comunicação e o design gráfico. Ele põe e dispõe uma diversidade de elementos visuais e textuais, criando combinações de um modo especial e único, que nos forçam a ver e ler as palavras de forma não automática. Creio que este é o aspecto central de seu trabalho: a criatividade. Arguto, Jun nos impele a liberar nossa própria criatividade. Minha prática pedagógica tem demonstrado que a sala de aula, o ateliê e as oficinas constituem vivos espaços de manifestação de criatividade, cujo exercício requer método e disciplina. Ao partilhar conosco alguns de seus projetos aqui publicados, Jun nos ensina um pouco sobre seu método, manifesta o domínio dos recursos que lhe permitem o exercício de sua extraordinária capacidade de criação.

 

Maria Cecília Loschiavo dos Santos é filósofa e professora do Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Jun, um affichiste: novos caminhos na paisagem das artes gráficas

Ziraldo Alves Pinto

Raymond Savignac é um velho affichista francês que sempre me encantou desde que eu descobri o que ser na vida. O affiche (o cartaz ou pôster no metrô ou dos quiosques de Paris) destacou-se sempre pela espirituosidade de suas invenções e criou – com Lautrec, Morvan, Hergé, Leupin – a profissão de grafista, nome que Folon inventou e propôs para nós, artistas desta área. 

Savignac, para mim, é o primeiro exemplar desta família de hoje que tem, no mundo, nomes como os do próprio Folon, Milton Glaser, Tomy Ungerer, André François, Seymour Chwast, Heinz Edelmann, entre outros. Uma gente parecida assim com o Jun Yokoyama, que, negavelmente, faz parte desta família (o ramo oriental-paulista)! 

Jun por sua capacidade de invenção, por suas idéias incríveis, pela modernidade de seus trabalhos, pela objetividade do menos é muito mais, e, principalmente, por sua capacidade de descobrir novos caminhos na bela paisagem das artes gráficas, pode ser comparado a qualquer dos grafistas aqui citados. Sem falar no fato de que ele maneja a tipografia melhor do que eles todos juntos. O Jun é absolutamente bom. 

Ziraldo é o mais conhecido artista gráfico e escritor da literatura infanto-juvenil do Brasil, com quase 100 livros publicados. É autor do "Menino Maluquinho" com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos.

De aprendiz a feiticeiro
Depoimentos -

Obras com palavras e imagens de Jun Yokoyama são tema de artigo de Steven Heller, o maior autor de livros de cultura visual e design dos Estados Unidos

“Words to brighten a wall” ou “Palavras para iluminar uma parede” foi o título dado pelo colunista da The New York Times Book Review e ex-diretor de arte por 33 anos do jornal The New York Times, Steven Heller, para artigo em que aborda as obras do artista brasileiro Jun Yokoyama. Palavras e imagens em um jogo visual de descobertas surpreendentes: essa inusitada linguagem intrigou Heller, autor e coautor de mais de 100 livros sobre arte e design, em matéria no site Imprint, da revista norte-americana Print, uma das mais importantes publicações sobre cultura visual e design do mundo, fundada em 1940.

Leia a entrevista: http://www.printmag.com/environmental/words-on-a-wall/

Jun Yokoyama é entrevistado por Steven Heller, colunista do The New York Times Book Review e professor da School of Visual Arts, em Nova York.
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